Percepção |

Percepção

Junho de 1926, Paul Stark Seeley


Um cientista físico afirmou que o olho humano percebe apenas uma quadragésima milionésima parte do universo material. Quão inadequado, então, é este órgão físico como meio para informações confiáveis! A maior parte do que ocorre no chamado universo material temporário é vista pelo olho; e ele não percebe nada do universo espiritual permanente da Mente divina. Diz Paulo: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram… o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. Onde, então, se encontra essa capacidade perceptiva que nos familiariza com Deus e Sua obra?

A Ciência Cristã refuta o testemunho da matéria, negando que o próprio homem ou os sentidos do verdadeiro homem estejam na matéria, e afirmando que o verdadeiro homem e seus sentidos são a expressão da Mente eterna e dotados da permanência da Mente divina. O importante fato, muitas vezes negligenciado, é que a Mente é necessária para que haja sensibilidade. “Somente a Mente possui todas as faculdades, a percepção e a compreensão”, escreve Mary Baker Eddy no livro-texto da Ciência Cristã, “Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras” (p. 488). Sem a Mente, não pode haver sentido perceptivo. Perceber é um modo de atividade da Mente.

Deus é referido por Mary Baker Eddy como “o onisciente” (ibid., p. 587). Onde ocorre a atividade de percepção de Deus? É como perguntar: Onde se expressa a Vida que é Deus? Ou, Onde se manifesta o Amor que é Deus? Deus, a Mente, tem um único modo de expressão: Suas ideias. A verdadeira individualidade de cada um de nós é uma ideia de Deus e, como tal, deve expressar a atividade perceptiva do Ego onisciente. Essa atividade perceptiva de Deus, assim como a atividade conhecedora e amorosa de Deus, opera eternamente em Suas ideias, é evidenciada por elas e é inseparável delas.

Essa descoberta leva a conclusões importantes. A verdadeira percepção do homem é a expressão individualizada da visão de Deus, assim como o viver do homem é a expressão individualizada do viver de Deus. Visto que a visão do homem é um modo individual da visão de Deus, sua visão é tão substancial e contínua quanto a visão de Deus. A permanência da Mente divina e de todas as suas faculdades é conferida à sua ideia. Devemos, portanto, compreender o homem como ideia de Deus.

Na ordem divina, não pode haver visão prejudicada, assim como não pode haver Mente prejudicada, inteligência debilitada ou Deus cego. A verdadeira percepção não pode ser prejudicada, assim como a atividade de Deus não pode ser interrompida, ou a onipresença perpétua da Mente não pode ser anulada ou diminuída. Se uma ideia pudesse perder suas faculdades perceptivas, ou tê-las prejudicadas, tal resultado evidenciaria um poder maior do que a Mente onisciente. Deus deixaria de ser onisciente. A perda da percepção isolaria a ideia das relações e associações que caracterizam a unidade divinamente coordenada das ideias da Mente e a indivisibilidade perpétua de Deus e Seu universo.

As faculdades perceptivas permitem discernir a identidade de cada uma das ideias da Mente. A deterioração dessas faculdades, se possível, interromperia a unidade e a associação inteligente das ideias de Deus em uma única família universal. Na continuidade eterna da atividade perceptiva, expressa pelas ideias de Deus, evidencia-se a onipresença da Mente onisciente.

O que contradiz essas conclusões? Pensamentos materiais e sensações físicas. Quanta credibilidade se deve dar a tal testemunho? Nenhuma. Por quê? Porque é uma negação do padrão divinamente inteligente da vida e da humanidade, sendo, portanto, uma negação, uma mentira.

A mentira afirma que existe outra mente, o oposto de Deus, o bem. Alega que essa mente cria a matéria e reside na matéria. Admite-se que a mente é necessária para que haja sensibilidade, mas afirma-se: “Eu sou mente e estou na matéria”. Portanto, argumenta-se, a sensibilidade está na matéria; a visão e a audição são materiais. Onde reside a falácia? Exatamente aqui: a mente mortal é desprovida de inteligência, a qualidade essencial da Mente; logo, ela nunca é Mente. Chamá-la de mente é uma contradição linguística, como afirma Mary Baker Eddy em seu livro didático (p. 114). A mente nunca é mortal. Por nunca ser Mente, a chamada mente mortal jamais possui sensibilidade. Por nunca ter sensibilidade, ela não pode dotar um organismo sem mente e sem substância com faculdades que ele não possui.

O que parece ser uma visão distorcida é, na verdade, uma manobra para refutar a mentira de que a mente e a sensibilidade estão na matéria orgânica. As dificuldades surgem quando acreditamos ser o que a mente mortal diz que somos — sua própria criação, condicionados e dependentes da matéria e dos sentidos materiais — em vez de percebermos que somos o que Deus, a Mente divina, sabe que somos, Sua ideia eterna, imaculada e inabalável, visto que Ele nos dá a capacidade de ver, não por meio da matéria, mas apesar dela. Nossas relações conscientes uns com os outros e com a criação são preservadas para sempre por causa de Deus. A capacidade de Deus de se sustentar e Sua própria capacidade de onisciência. Todo o nosso ser, incluindo a nossa visão, está Nele e pertence a Ele. A consciência eterna do Infinito sobre Sua infinita individualidade inclui as faculdades perceptivas de cada ideia.

A crença, então, na visão deficiente, que por vezes se torna um contágio popular, deve-se principalmente à concepção errônea de que a mente está na matéria e que a percepção, portanto, está na matéria e sofre destruição ou comprometimento, condições sempre consequentes ao pensamento mortal. Quando se compreende que a Mente não está na matéria, torna-se evidente que a sensibilidade não pode estar lá. A mentira da visão deficiente deve então desaparecer, pois não há nada que a sustente.

Embora a mente mortal, escondendo-se atrás de seu efeito, afirme que o olho vê, a Ciência demonstra que não. Somente a chamada mente mortal acredita ver as coisas materiais, assim como somente ela acredita conhecer os pensamentos mortais. Quando a mente mortal abandona o corpo de sua criação, o olho não vê, embora sua estrutura orgânica permaneça inalterada. À medida que a verdadeira percepção é adquirida, os objetos temporários — os pensamentos mortais, os objetos da sensibilidade material — gradualmente cedem lugar às ideias permanentes da Mente, que fornecem evidências e provas da existência de Deus.

Quando a mente mortal encontra um ouvinte para sua alegação de visão prejudicada, ela insiste em sua mentira com agressividade persistente. A percepção é constantemente necessária para manter o contato com os homens, os livros e as coisas. Sob o pretexto da necessidade, o sentido corpóreo tentaria forçar concessões, retrocessos e uma prolongação de sua afirmação de que a matéria primeiro dá a visão, depois a tira e, em seguida, exige apêndices materiais para que o homem continue a ver. Às vezes, reforçaria seus argumentos por meio de comparações. Lembra-nos que um amigo, talvez um profissional, usa óculos. Para nós, usar óculos não seria tão ruim, sussurra! Assim, segue seu caminho enganoso. A comparação pessoal tem mais probabilidade de nos deixar no santuário inútil da personalidade humana do que de nos aproximar de Deus. A única obrigação do homem é ser homem — representar, o que significa expressar, a Mente onisciente. O que os mortais fazem, ou parecem não fazer, não pode mudar o que o homem deve fazer. Se o uso de meios temporários para auxiliar a visão humana parece a alguns o menor dos males por ora, lembrem-se de que tais meios são apenas temporários. O indivíduo jamais deve se contentar até que tais meios deem lugar à percepção perfeita concedida por Deus. Dar lugar permanente à mentira da percepção prejudicada na mente é abrigar uma negação da natureza de Deus.

A verdadeira percepção é alcançada quando adquirimos a Mente de Cristo, a consciência divina que sabe que Deus é Tudo em tudo. Por possuir essa espiritualidade em certa medida, Jacó foi capaz de perceber os anjos, representações de Deus, em sua harmoniosa atividade celestial. Foi essa consciência que permitiu a Daniel e João discernir as visões apocalípticas, tão indicativas da substancialidade das coisas invisíveis aos sentidos físicos. A transfiguração demonstrou a capacidade da verdadeira percepção de enxergar além das nuvens da percepção terrena e encontrar uma associação consciente com Moisés e Elias, apesar de muitos séculos de tempo, evidenciando assim a indivisibilidade da família de Deus.

Não são os bons olhos, mas os bons pensamentos, que são o meio da verdadeira percepção. Os primeiros resultam quando os últimos são cultivados. Visto que a percepção é uma faculdade da Mente divina e inerente a ela, só temos consciência dela na medida em que estamos em união com a Mente divina. Estamos conscientemente em união com a Mente divina somente na medida em que nossos pensamentos são os pensamentos dessa Mente. A consciência deve se tornar conscientemente semelhante a Deus, deve expressar amor, bondade, altruísmo, pureza, honestidade e espiritualidade. Enquanto a crítica, a condenação, o ódio, a desonestidade, o egoísmo, o pecado e o medo permanecerem no pensamento, como pode a percepção divina ser conhecida? Nada disso é visto de Deus, e é o Seu ver que é expresso pelo homem. Três vezes nosso amado Líder nos questiona nos versos iniciais do Hino da Comunhão (Poemas, p. 75). Cada pergunta tem a ver com a percepção:

“Vistes meu Salvador? Ouvistes o som alegre?

Sentistes o poder da Palavra?”

Os três versos seguintes apontam o caminho que, se seguido, nos permitirá responder corretamente.

“Foi a Verdade que nos libertou,

E foi encontrada por vós e por mim,

Na Vida e no Amor de nosso Senhor.”


Original text

Perception

Paul Stark Seeley

June 1926 Issue of The Christian Science Journal

A PHYSICAL scientist has stated that the human eye perceives but one forty-thousand-millionth part of the material universe. How inadequate, then, is this physical organ as a medium for reliable information! By far the greater part of what is taking place in the temporary so-called material universe the eye never sees; and it takes no note at all of the permanent spiritual universe of divine Mind. Says Paul, “Eye hath not seen, nor ear heard . . . the things which God hath prepared for them that love him.” Where, then, is that perceptive capacity to be found that acquaints us with God and His work?

Christian Science turns back the testimony of matter, denying that either man himself or the senses of the true man are in matter, and affirming that the true man and his senses are the expression of eternal Mind and endowed with the permanency of divine Mind. The important fact is often overlooked that there must be Mind in order to have sensibility. “Mind alone possesses all faculties, perception, and comprehension,” writes Mrs. Eddy in the Christian Science textbook,”Science and Health with Key to the Scriptures” (p. 488). Without Mind there can be no perceptive sense. Perceiving is a mode of Mind’s activity.

God is referred to by Mrs. Eddy as the “all-seeing” (ibid., p. 587). Where is the seeing activity of God taking place? That is like asking, Where is the Life that is God expressed? or, Where is the Love that is God made evident? God, Mind, has one and only one mode of expression, namely, His ideas. The true individuality of each one of us is God’s idea, and as such must express the perceptive activity of the all-seeing Ego. This perceptive activity of God, just as the knowing and loving activity of God, is eternally operating in, is evidenced by, and is inseparable from, His ideas.

This discovery leads to important conclusions. Man’s true perception is the individualized expression of God’s seeing, just as man’s living is the individualized expression of God’s living. Since man’s sight is an individual mode of God’s seeing, his sight is as substantial and continuous as is God’s seeing. The permanency of divine Mind and all its faculties is conferred on its idea. We must therefore gain an understanding of man as God’s idea.

In the divine order there can no more be impaired sight than there can be impaired Mind, a depleted intelligence, or a blinded God. True perception can no more be impaired than God’s activity can be interrupted, or the perpetual omniaction of Mind can be abrogated or lessened. If one idea could lose its perceptive faculties, or have them impaired, such result would evidence a power greater than the all-seeing Mind. God would no longer be all-seeing. Loss of perception would isolate the idea from those relationships and associations which characterize the divinely coordinated unity of Mind’s ideas, and the perpetual indivisibility of God and His universe.

The perceptive faculties afford the ability to discern the identity of each and all of Mind’s ideas. Impairment of these faculties, if such were possible, would disrupt the unity and intelligent association of God’s ideas in one universal family. In the eternal continuity of perceptive activity, expressed by God’s ideas, is evidenced the omniaction of the all-seeing Mind.

What argues against these conclusions? Material thoughts and physical sensation. How much credence is to be accorded such testimony? None. Why? Because it is a denial of the divinely intelligent standard of life and manhood, and is therefore a negation, a lie.

The lie asserts there is another mind, the opposite of God, good. It claims that this mind evolves matter and resides in matter. It admits that there must be mind in order to have sensibility, but it says: I am mind, and I am in matter. Therefore, it argues, sensibility is in matter; sight and hearing are material. Where is the fallacy? Just here: that mortal mind is devoid of intelligence, the essential quality of Mind; hence it is never Mind. To call it mind is a contradiction in language, as Mrs. Eddy states in her textbook (p. 114). Mind is never mortal. Because it is never Mind, so-called mortal mind never has sensibility. Never having sensibility, it cannot endow a mindless, substanceless organism with faculties which it does not possess.

What seems to be impaired vision is a changing deflection of error’s lie that mind and sensibility are in organic matter. Difficulties arise when we believe we are what mortal mind says we are,—its very own, created and conditioned by and dependent on matter and material sense,—instead of realizing that we are what God, divine Mind, knows we are, even His eternal, unimpaired and unimpairable idea, seeing as He gives us to see, not by or through matter, but in spite of it. Our conscious associations with one another and with creation are forever preserved to us by reason of God’s ability to sustain Himself and His own all-seeing ability. All the being we have, including our seeing, is in Him and is His. The infinite One’s eternal consciousness of His infinite selfhood includes the perceptive faculties of every idea.

The belief, then, in impaired vision, which sometimes inflates itself into a popular contagion, is due primarily to the misconception that mind is in matter, and that perception is therefore in matter and suffers destruction or impairment, which are the conditions always consequent to mortal thinking. When it is understood that Mind is not in matter, it becomes apparent that sensibility cannot be there. The lie of defective sight must then disappear, for there is nothing to support it.

Though mortal mind, hiding behind its effect, claims that the eye sees, Science shows that it does not. So-called mortal mind alone believes it sees material things, even as it alone believes it cognizes mortal thoughts. When mortal mind abandons the body of its making, the eye does not see, though its organic structure is unchanged. As true perception is gained, the temporary objects—mortal thoughts, the objects of material sensibility—gradually give place to the permanent ideas of Mind, which afford evidence and proof that God is.

When mortal mind finds an auditor for its plea of impaired sight, it presses its lie with persistent aggressiveness. Perception is constantly needed to maintain contact with men, books, and things. Under the guise of necessity, corporeal sense would try to force concession, retrogression, and a prolongation of its claim that matter first gives sight, then takes it away, and then demands material appendages in order for man to continue to see. Sometimes it would bolster its arguments by comparison.

It reminds us that a friend, perhaps a practitioner, is wearing glasses. For us to do so would not be so bad, it whispers! Thus it plies its deceitful way. Personal comparison is more likely to leave one at the unavailing shrine of human personality than to advance one Godward. Man’s one obligation is to be man—to represent, which means to express, the all-seeing Mind. What mortals do, or do not seem to do, cannot change what man must do. If the use of temporary means to aid human vision seems to some the lesser of two evils for the moment, let it be remembered that such means can be only temporary. The individual should never be content until such means have given way to that perfect perception bestowed of God. To give the lie of impaired perception a continuing place in one’s mental home is to shelter a denial of God’s nature.

True perception is gained as we gain the Mind of Christ, the divine consciousness which knows that God is All-in-all. Because he possessed this spiritual-mindedness in some measure, Jacob was able to perceive the angels, ideas of God, in their harmonious heavenly activity. It was this consciousness which enabled Daniel and John to discern the apocalyptic visions, so indicative of the substantiality of things unseen by physical sense. The transfiguration showed the ability of true perception to see beyond the clouds of earth-sense and find conscious association with Moses and Elias, despite many centuries of time, thus evidencing the indivisibility of God’s family.

Not good eyes, but good thoughts, are the medium of true perception. The former result if the latter are entertained. Since perception is a faculty of, and is inherent in, divine Mind, we are conscious of it only in the degree we are at-one with the divine Mind. We are consciously at-one with the divine Mind only as our thoughts are that Mind’s thoughts. Consciousness must become consciously Godlike, must express love, goodness, unselfishness, purity, honesty, spirituality. While criticism, condemnation, hatred, dishonesty, selfishness, sin, fear, abide in thought, how can divine perception be known? No one of these is seen of God, and it is His seeing that is expressed by man. Three times our beloved Leader questions us in the opening lines of the Communion Hymn (Poems, p. 75).

Each question has to do with perception:

“Saw ye my Saviour? Heard ye the glad sound?

Felt ye the power of the Word?”

The three succeeding lines point the way which, if followed, will enable us to answer aright.

“‘Twas the Truth that made us free,

And was found by you and me

In the life and the love of our Lord.”