O Leão e o Rato
Gilbert C. Carpenter
Trecho de Mary Baker Eddy, Seus Passos Espirituais
À primeira vista, os Salmos parecem representar mais o lado cristão do pensamento do que o científico. No entanto, esse lado cristão tem seu lugar distinto em auxiliar o pensamento, quando se afirma que ele é pesado, cansativo ou deprimido. Deve-se reconhecer, contudo, que a Ciência representa a única conquista permanente, e os Salmos cumprem sua maior missão por meio da Ciência que contêm.
O lado cristão dos Salmos, que inculca uma fé infantil em Deus, apresenta a possibilidade de superar temporariamente as dificuldades, embora ainda se acredite na realidade do erro, o que nunca é o processo científico. Depois que o estudante aprender, no entanto, a compreender a irrealidade do erro, sua falsidade, tolice e engano, ele não deve acreditar que, se seu pensamento afundar novamente na crença em sua realidade, a Ciência seja a única saída. É, sem dúvida, a única saída permanente, mas o lado cristão dos Salmos representa uma forma temporária de escape, que pode ser necessária às vezes.
Este ponto pode ser ilustrado pela antiga fábula do leão e do rato. O leão permitiu que o rato escapasse com vida, porque o rato prometeu retribuir o favor quando a oportunidade surgisse. Embora o leão tenha rido da proposta, chegou o dia em que o rato conseguiu libertá-lo de uma armadilha de cordas fortes, partindo-as ao meio.
O rato pode ilustrar a fé humana em Deus, uma confiança infantil que encontramos presente nos ensinamentos da teologia antiga; enquanto o leão pode representar a compreensão científica da totalidade de Deus e do poder do homem quando ele reflete essa Mente divina. Além disso, pode tipificar aquele estado de destemor que permite ao homem enfrentar a crença mortal em todas as suas manifestações, porque reconhece sua nulidade científica.
Quando a Ciência Cristã resgata dos destroços da velha teologia uma fé simples em Deus, essa qualidade semelhante à de um rato pode agradecer à Ciência Cristã e dizer: “Um dia eu te ajudarei”. É óbvio que aquele que possui entendimento espiritual riria dessa promessa, sabendo quão distante de seu pensamento estava tal senso humano de Deus. No entanto, chega o dia em que seu pensamento se cansa e se apega ao medo; a lógica do argumento científico não parece mais eficaz; ele não consegue enxergar a irrealidade do testemunho sensorial. Então surge o pensamento, ilustrado pelo rato, uma confiança infantil em Deus, para ajudar a libertar seu pensamento desse emaranhado.
Assim, um cientista cristão sábio, não importa quão científico seja seu entendimento, nunca despreza uma fé infantil em Deus, porque, mesmo não sendo o método científico, pode ser o meio de ajudá-lo em momentos de necessidade, ajudando-o a flutuar quando estiver cansado demais para nadar.
Na página 23 de Ciência e Saúde, a Sra. Eddy faz essa distinção, chamando a qualidade do rato de confiança e a qualidade do leão de confiabilidade. Ela se refere a elas como dois tipos de fé: uma, que confia o próprio bem-estar aos outros, e a outra, uma autoconfiança que inclui compreensão espiritual.